22 de out. de 2009

Reclamamos de barriga cheia

O mundo evoluiu. Os padrões de vida aumentara - para algumas pessoas, já que tantas outras ainda ralam muito durante o mês para dar conta de pagar as despesas básicas para se manter vivo com dignidade. A tecnologia insere no mercado novos modelos de celulares todos os dias. Computadores, televisores, o eletroméstico mais funcional, o apartamento mais luxuoso concebido pela construção civil, o carro mais caro da indústria automobilística.

Tudo isso para a minoria, afinal, os preços são altos - e os impostos, também. As necessidades básicas - luz, água, comida, gáz, escola - vêm em primeiro lugar. Quando e quanto sobra para o lazer, para os pequenos luxos, para o chocolate? Quem dirá para um carro ou a casa própria.

Manoel Carlos, assim como os outros autores de novela, possui o seu próprio estilo de criar seus folhetins. Helenas, um clima de romance e Rio de Janeiro são imprescindíveis no seu cenário. E, é claro, a classe alta. Não tenho acompanhado muito a atual novela para não ficar viciada. Se isso acontecer, largo tudo que estou fazendo para acompanhar o capítulo. E, hoje, tenho outras prioridades. Vejo a novela de vez em quando... alguns flashes, o fim de um capítulo, o início de outro... Por já ter acompanhado outras de suas histórias, conheço o estilo. O autor valoriza a ostentação. Já viu algum personagem pobre? É incrível. Outro dia, uma cena me chamou a atenção. Marcos, personagem do 'pegador' José Mayer falava com a esposa Helena, personagem de Taís Araújo, ao telefone. Ele estava no jóquei. A mulher 'cobra' então do amado: "Lembra que você me prometeu um (cavalo)?". Assim, como a gente diz pro namorado: "Lembra que me prometeu um chocolate?".

Esse núcleo da novela representa uma mínima parcela da população.

Entretanto, de praxe, ao final de cada capítulo, há sempre um depoimento de uma pessoa, real, que fala sobre um fato de sua vida, um fato de superação.

Histórias geralmente emocionantes e mais ainda por serem verdadeiramente verdadeiras. E pelo fato de que poderiam acontecer a qualquer um de nós.

Hoje, vi uma dessas histórias. Uma mãe contava sobre o incidente que aconteceu com seu filho ainda bebê. Devido a uma pneumonia forte e à demora a ser socorrido, a criança ficou em estado grave por cerca de 3 horas, o que diminuiu muito o oxigênio no seu cérebro. O menino cresceu com dificuldades, hoje já enxerga, mas não anda e nem fala. A mãe afirma que a criança luta e, com certeza, a família apoia.

No final do depoimento, aparece a mãe com o marido, a filha e o filho. Aquela cena me emocionou. Não é fácil criar um filho hoje, menos fácil ainda é criar um filho que tenha problemas, pois a sociedade é preconceituosa e muitas vezes não há estrutura.

Quantas crianças sofrem com esse tipo ou outro tipo de dificuldade? Quantas delas passam fome? Quantas não tem um brinquedo no Dia das Crianças?

E o que falar dos adultos... quantos vivem em situação relativamente difícil. Quantos idosos são abandonados e esquecidos em asilos?

Poderia listar aqui diversos outros problemas, mas não é cabível. Todos nós temos olhos e ouvidos para enxergar e saber a situação do mundo e seus problemas.

Longe de mim ser Madre Teresa de Calcutá ou bancar a Polyana... Porém, acredito que, muitas vezes reclamamos de barriga cheia. Principalmente quando nos preocupamos com o fútil... com aquela sandália nova, aquele celular da hora ou o carro do ano.

Muitas pessoas nunca vão chegar nem perto disso.

O mundo poderia deixar de ser tão egoísta.

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