26 de jul. de 2008

Lembranças de infância

Infância. Para mim, esta palavra traz inúmeras conotações. Inúmeras lembranças. Um tempo em que sonhar é verbo constante e imaginar é o que nos faz viver. Não sei como definir de onde vêm as primeiras lembranças. Aqui, cabe aquela velha expressão, “desde que me entendo por gente”. Gente muito pequena, pode-se dizer. Mas com ideais do tamanho do planeta. Da galáxia. Do infinito, já que, quando eu era criança, imaginava outras galáxias, outros mundos. Um mundo no qual, em outro planeta, existia outra igualzinha a mim. E, um dia, ela viria me visitar.
Na minha imaginação, se eu rezasse muito, meu pedido seria realizado. Mesmo que eu tivesse queimado as fotos dos atletas das Olimpíadas e as quisesse de volta. Na minha mente que tanto pensava, eu poderia tudo. A fé, com certeza, movia montanhas. E, até ali, era tudo muito puro. Não conhecia as atrocidades do mundo, nem sabia das drogas, tampouco imaginava que existissem guerras.

O importante era ter tempo para brincar. Montar as casas, sempre muito luxuosas e cheias de detalhes, das bonecas Barbie. E imaginar que ela tinha um Ken, até que ele chegasse como presente do bom velhinho. Ah, o bom velhinho... Mesmo estando num país tropical, no qual a temperatura em dezembro beira os trinta graus, eu sabia que ele viria, vestido de vermelho, com sua barba branca, seu saco de presentes, suas galochas pretas e seu trenó. Num momento em que eu estivesse distraída e, de repente, conferisse a árvore de galhos secos enfeitada com bolas brilhantes e coloridas, lá estariam os pacotes de presentes, fazendo brilhar meus olhos tão curiosos e ansiosos. Muitas vezes saí à rua, chamando “Papai Noel!”, na esperança que ele surgisse de algum lugar...

Foi a lenda infantil em que eu mais acreditei. Nunca levei muita fé no coelhinho da Páscoa. Na realidade, creio que nunca aceitei sua existência. Apenas acompanhava mamãe perdendo seu tempo na cozinha derretendo enormes pedaços de chocolate, colocando em fôrmas e embalando no papel alumínio com fitas – sempre cor-de-rosa. No domingo de manhã, a alegria era descobrir os ovos escondidos no meio do jardim. E muitas vezes lamentar o fato de as formigas terem saboreado os ovinhos recheados com amendoim antes de nós.

E tinha a nave da Xuxa. A Porta da Esperança. O He-man e a Shee-Ra. Os filmes dos Trapalhões. O Programa Livre era um saco. Dormir depois do Jornal Nacional então, pior ainda. Eu queria ficar acordada até tarde. Onze horas da noite era madrugada na minha fértil imaginação que hoje não perdeu essa característica, apenas viaja em outros tipos de assuntos.
Às vezes eu queria nunca ter crescido, queria ter parado no tempo. Não teria perdido aquele sorriso constante. Não precisaria acordar para trabalhar. Poderia comer nega maluca sem me preocupar em engordar e tomar refrigerante sem encanar com celulite. Ouviria Mara Maravilha, Xuxa, Eliana, Angélica. Continuaria sonhando em ser paquita. E não pensaria no sentido de uma letra que canta “créu”, nem tentaria entender por que um pai jogaria sua filhinha do sexto andar e tampouco me irritaria com um cartão corporativo. No fim, no mundo de hoje, ser adulto é meio chato. Às vezes, deprimente.

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