17 de jun. de 2010

O câncer e a vontade de viver

Certas coisas acontecem em nosso dia e são tão simples, mas, com pouco tempo ou palavras certas conseguem nos tocar. Explico. Estive hoje no Hospital e Maternidade Socimed para fotografar o Encontro de familiares e pacientes, promovido pelo Centro de Oncologia. O objetivo era simples: pacientes com câncer, em tratamento ou já curados reúnem-se para falar sobre suas vivências. A enfermeira e a psicóloga da equipe do Centro de Oncologia conduziram o que podemos chamar de terapia em grupo. Tinha até plateia – alguns estudantes de um curso técnico de enfermagem.

Sentei lá e fiquei observando, depois, quando todos chegaram e o papo oficialmente começou, comecei a tirar algumas fotos e ouvir aqueles relatos de pessoas que eu sequer conhecia. Fiquei bastante tocada. Um senhor de 69 anos relatou sua história com muito bom humor. Passou por 105 sessões de radioterapia. E afirmou que “canceroso” morre é de fome – referindo-se à negação à comida, causada pelos enjoos, provenientes da forte medicação. Era uma piada, claro. E disse ainda que forçava a ingestão da comida; não se entregou às más sensações.

Havia cerca de 10 pessoas. Não contemplei o encontro até o fim, mas o pouco que assisti me deixou contente. Não, não estou festejando a desgraça dos outros. Afinal, ninguém quer ter um câncer – muitos não gostam nem de pronunciar a palavra em si. Porém, como eu disse no post de ontem, problemas todos têm – o que muda é a forma de encará-los. E minha afirmação se confirmou hoje.

Achei que ia sair de lá deprimida, que ia chorar, que ia ter pena. Sei lá, essas coisas que se passam na nossa cabeça quando vemos alguém doente, passando por um momento difícil. Os depoimentos que ouvi lá me proporcionaram exatamente uma sensação contrária. Havia, por exemplo, uma professora que fez quimioterapia e continuou com sua vida normalmente. Ela teve câncer de mama, e, apesar de a doença atingir somente um dos seios, preferiu tirar os dois. Hoje está feliz esteticamente, já que não gostava do tamanho do seu busto. Achava grande demais. Deixou-os como sempre quis depois do implante de silicone. Atualmente, surpreende-se com o cabelo que está nascendo, encaracoladinho – ao contrário do que era antes, liso. Já outra senhora relatou que tirou o seio e preferiu não colocar prótese – segundo ela, eles já amamentaram seus três filhos e está contente por isso. Não se assusta com o reflexo no espelho. Outra que me deu uma surpresa feliz foi uma mulher que estava de peruca e, se não tivesse falado, eu jurava que o cabelo era de verdade.

O que me admirou nessas pessoas foi o espírito de seguir em frente. Nenhuma se fez de vítima. Ao contrário, muitas vezes contaram suas experiências com bom humor e reafirmaram que a doença não mudou quase nada suas rotinas. Não sofreram efeitos colaterais da quimioterapia - exceto a queda de cabelos, já que a queda de pelos foi até comemorada – , foram ao shopping, fizeram sexo, trabalharam e viveram.

Arrisco-me a dizer que essas pessoas só se curaram porque não se colocaram na posição de vítimas. Tiveram a consciência de que só elas poderiam fazer alguma coisa para mudar sua situação e vencer a doença. Adquiriram coragem e seguiram em frente.

Por isso, acho que os piores cânceres são aqueles invisíveis, que crescem e estragam o corpo e a mente: o câncer da inveja, da mediocridade e da amargura. Esses sim, nem o remédio mais forte cura.


[Vale lembrar aqui que o encontro promovido pelo Centro de Oncologia do Socimed é aberto para qualquer ex ou atual paciente com câncer. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 3621-2525.]

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