4 de out. de 2010

País de feios contrastes

O Brasil é um país de contrastes. Poder-se-ia dizer de antíteses. Observa-se grande extensão continental, variedade de cultura, sotaque, clima, belezas e cores inerentes a cada região. Esse contraste possibilita ao seu povo diversas opções e enriquece a experiência de cada um. Mas, ao contrário das antíteses poéticas, essa contrariedade não é sempre bonita. Há contrastes que envergonham e fazem com que todos esses pontos positivos sejam diminuídos. Violência, problemas na educação e na saúde pública, corrupção. Esses são só alguns dos problemas que precisam ser solucionados – e rapidamente – em nosso país.

Quando o Brasil conquistou a vaga de país-sede da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, eu fiquei muito feliz. Eventos como esse trazem projeção para um país, contribuem para a geração de empregos e incentivam os jovens esportistas a fazer bonito dentro de casa. Ao mesmo tempo, observando os mesmos contrastes negativos, já não tenho tanta certeza de que ser sede desses mundiais esportivos seja realmente bom.

Exponho essa afirmação após uma comparação que fiz entre os contrastes do nosso Brasil, ao ler duas reportagens distintas nas últimas semanas. Uma, publicada na revista Exame, questionava a construção de um estádio no estado do Amazonas, orçada em 500 milhões de reais. Uma obra caríssima, que tem poucas chances de se tornar sustentável antes e depois dos jogos do Mundial, já que a média de público do futebol é de 2 000 torcedores por partida e o estado não conta com nenhum clube nas séries de destaque do Campeonato Brasileiro. O Tribunal de Contas da União já mostrou, através de relatório, que a arena não seria economicamente viável. Muitos defendem que a obra pode virar orgulho dos amazonenses. Porém, um orgulho que vai custar caro para deixar de atender outras necessidade que aflige a população. Um exemplo é o saneamento básico - apenas 11% da população do Amazonas é atendida por rede de esgoto.

Se não bastassem os 500 milhões de reais que serão investidos na obra, há pessoas morrendo por causa de R$520. Uma reportagem de capa da revista Época, há algumas semanas, comoveu-me. Primeiro, porque a vítima era um adolescente. Segundo, porque o que conspirou contra sua vida foi a burocracia, que tanto atrasa nosso país. A vítima, Fábio de Souza do Nascimento, morreu de insuficiência respiratória porque as autoridades se recusaram – mesmo com ordem da Justiça – a fornecer um aparelho simples que o ajudaria a respirar e melhorar sua qualidade de vida. Fabinho, como era carinhosamente chamado, tinha uma doença pulmonar e necessitava de um balão de oxigênio em casa. Seus pais conseguiram o equipamento na Justiça, porém, nunca o receberam, já que a União, o Estado e o município do Rio de Janeiro ficaram seis meses empurrando a responsabilidade um para o outro. Aí, foi tarde demais. E mais uma vida se foi devido à negligência das autoridades. Uma vida inocente, alguém que tinha sonhos, que queria jogar futebol, mas já não conseguia, pois suas condições de saúde, no estágio crítico da doença, não permitiam.

É um absurdo que episódios como esse aconteçam num país que quer gastar 500 milhões em um estádio de futebol, mas nega-se a pagar R$520 (custo mensal do aparelho de Fabinho) para salvar uma vida. Afinal, o que é mais importante? A vida. Como a reportagem de Época argumentou, se a vida está em jogo, primeiro se cumpre a determinação judicial, depois se questiona. Afinal, as instituições devem estar a serviço da sociedade, e não a sociedade a serviço das instituições. Até quando vamos pagar impostos que nenhum retorno nos trazem? Quantos inocentes serão vítimas do descaso e da burocracia? São esses casos que precisam deixar de existir para que prevaleçam apenas os aspectos positivos no Brasil.


Para ler a reportagem da Época, clique aqui.

Para ler a matéria da Exame, clique aqui.

Um comentário:

Catarina Oliveira disse...

oi td bein? li todas as postagens.
Elas são ótimas
parabéns! se puder também da uma passadinha no meu blog! ele fala sobre moda, acho que você vai gostar! aproveita e comenta e segue! bju!

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