28 de set. de 2010

Eu não sou uma loser

Desde que “os sutiãs foram jogados na fogueira”, a mulher passou por uma verdadeira revolução. Deixou de ser apenas responsável pelos cuidados com os filhos e a administração da casa e passou a assumir diversos papeis. Passou a concluir estudos, ingressou no mercado de trabalho, virou gestora e adquiriu independência – não precisa mais depender de um homem financeiramente. Além disso, com a invenção da pílula anticoncepcional, passou a ter controle do seu relógio biológico, podendo planejar sua vida com calma e estabelecer objetivos para a mesma.

Ao mesmo tempo em que a mulher conquistou seu lugar ao sol, a ela sobra, muitas vezes, a cobrança pela atualização constante e a culpa por não dar conta disso tudo. Além de administrar uma casa (mesmo que se tenha empregada doméstica, é preciso estar de olho), preocupar-se com os filhos e dar conta do trabalho fora, a mulher precisa estar sempre bonita, com o visual em dia, estudando cada vez mais, almejando cargos maiores.

Acho que todas nós, em alguma fase de nossas vidas, paramos para pensar no que estamos fazendo. Estou correndo atrás de meus objetivos? Quando alcançarei minhas metas? Como será a minha vida no futuro? Onde quero estar daqui a X anos? E o mais importante: o que estou fazendo para isso?

Uma matéria na revista TPM do mês de agosto parecia trazer respostas para os anseios das mulheres. Intitulada Fora de ritmo, a reportagem prometia mostrar porque você não é uma fracassada.

Não fala inglês e já tem 20 anos? Ainda na casa dos pais aos 25? Mais de 30 e ainda não sentiu o reloginho biológico bater? Nunca ouviu falar em home broker aos 35 anos? Vai fazer 40 e nunca foi convidada para dar uma palestra? Em que planeta você vive? Provavelmente, no dos fracassados. Pelo menos, é nisso que querem que você acredite.

Parecia ser a matéria perfeita para fazer qualquer mulher se sentir aliviada. Entretanto, na minha opinião, faz você se sentir mais loser ainda. Os exemplos mostrados são invejáveis. Menininha de 20 falando dois idiomas e colecionando intercâmbios e viagens ao exterior, mulheres de 30 em cargos invejáveis e de 35 recebendo menção honrosa, aos 25 adquirindo apartamento próprio. Wow! Para tudo!

A matéria em si é boa, mas as personagens colocam qualquer mulher mortal no chinelo. Afinal de contas, a gente se esforça, quer ser poliglota, ganhar muito no fim do mês pra comprar tudo que se tem vontade e conhecer Paris, deseja ter seu próprio negócio. Mas o mundo real não é um conto de fadas, onde tudo acontece num passe de mágica. Há quem acredite em um sonho e não tenha investimento para isso. Tem gente que rala financiando faculdade, trabalhando o dia todo, sem sobrar grana ou tempo para estudar inglês ou economizar para uma viagem.

Sommelier-chefe de 20 anos, atriz da Globo, editora da Vogue, dona de agência e cineasta, definitivamente, são exemplos que deixam você se sentindo uma perdedora. E afirmar isso não significa colocar as “mortais” em posição de vítima. Só acho que teriam exemplos muito mais reais, convincentes e estimulantes para mostrar. Não falar inglês ainda, não ter feito um intercâmbio e não possuir seu próprio apartamento dependem de vários fatores. Não tê-los conquistado não significa ser perdedora, afinal, o fato de não estar parada e correndo atrás do que se quer conta muito.

Quer saber? Pese o que te faz feliz. Se falar inglês não é seu objetivo, desencana. Cada um tem seus sonhos e ambições e se isso te faz feliz, é o que importa. Basta correr atrás. A conquista de algo que almejamos pode ser cansativa e longa, mas, recompensadora.

Leia a matéria aqui. Muitas que comentaram também ficaram indignadas.

2 comentários:

Fernanda disse...

Por isso nãO me animo mais em comprar revistas da minha faixa etária,afinal as histórias sempre são de super mulheres e não das reais que ralam mto pra conseguir ter um emprego decente pelo menos.
Acooordem editoras!As mulheres de verdade querem ver mto mais além e não contos de fadas,afff!
Adorei essa deixa,mto bem escrita viu!Parabéns!Bj ;)

Karen Novochadlo disse...

Gostei bastante deste post. Conhecia muitas pessoas que só começaram a deslanchar na carreira depois dos 30.