27 de set. de 2010

A polêmica das máquinas de camisinha

Uma decisão do Ministério da Saúde vem criando polêmica – ela prevê a instalação de 40 máquinas de preservativos em escolas de todo país, inclusive em Florianópolis, Santa Catarina. Para ter acesso ao preservativo, o aluno precisa estar matriculado no Ensino Médio. É preciso digitar o número de matrícula e uma senha no visor da máquina. Por mês, cada estudante tem direito a 20 unidades.

A atitude vem gerando opiniões contraditórias - há quem concorde, há quem discorde. Não tenho opinião completamente formada. Trata-se de uma iniciativa nunca vista, que mexe com um assunto que ainda é tabu para alguns jovens, ou experiência vivida para outros.

Entretanto, há uma questão peculiar no meio disso tudo, que precisa ser lembrada: boa parte das pessoas não usa camisinha porque não quer, mesmo sabendo de sua importância. Seja pelo argumento de “chupar bala com papel”, seja por acreditar que uma DST não combina com alguém “limpinho”, ou seja, por achar que essas coisas só acontecem com os outros. Afinal, as campanhas do Ministério da Saúde alertam (embora apenas durante o Carnaval), os jornais avisam, algumas escolas trabalham o assunto muito bem e alguns pais comentam sobre o perigo do sexo desprotegido. Entretanto, não se vê erradicação da AIDS e de outras doenças. Além disso, há quem tenha na cabeça como preocupação principal a gravidez indesejada, e, assim, confie apenas na pílula anticoncepcional ou outros métodos que só impedem a fecundação, não a contaminação.

O que é preciso fazer? Tratar as causas, não as consequências. Entretanto, isso é rotina no Brasil. O sistema de cotas beneficia quem teve condições precárias de estudos, facilitando a entrada na faculdade. A vacina contra a Gripe A fez muitos esquecerem os hábitos de higiene. Da mesma maneira que os coquetéis para AIDS trazem conforto caso você adquira a doença. E a escola passa a ter mais uma responsabilidade, além das muitas outras que já lhe foram atribuídas, sem que os principais agentes desse local, os professores, fossem consultados. À escola cabe, sim, o ensino. Não se pode dispensar o conhecimento. E o diálogo. De nada adianta oferecer saídas sem conscientização. A instalação dessas máquinas requer debates – é preciso ouvir toda a comunidade: pais, professores, gestores e alunos. É necessário dialogar. E tomar cuidado com possíveis estereótipos que podem surgir com objetos como esse no pátio escolar, quando a idade dá margem para todo tipo de brincadeira, fofoca e ofensa. O menino que retira camisinhas é garanhão. A menina que faz isso é fácil. A escola terá estrutura para lidar com tudo que essa máquina vai trazer? E quem garante que camisinhas não chegarão até as mãos dos alunos de séries fora do Ensino Médio? E quem vai dizer se a máquina vai banalizar ou incentivar o sexo? Tudo que é proibido causa curiosidade, principalmente na adolescência, a fase das descobertas.

São mais que máquinas. São mudanças que chegarão às escolas. E talvez nem todas – e nem todos – estejam preparados para ela.

Talvez o governo devesse pensar em investir em mais livros, melhores salários e estrutura adequada para as escolas.

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