28 de fev. de 2011

A escola e as escolhas de cada um

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Na convivência diária com meus colegas professores, já ouvi, mais de uma vez, aquela afirmação que me deixa deveras irritada: “A escola ensina tantas coisas que não são utilizadas pelo aluno.” Por que me irrito? Bem, em primeiro lugar, porque a ouço de um professor. Se ouvisse de uma pessoa comum, penso que não haveria desconforto, pois os leigos sempre dirigem seu raciocínio de acordo com o senso comum e também de que o conhecimento repassado pela escola deve ser utilitário, ou seja, aprende-se para futuramente aplicar esse conhecimento em alguma área de atuação.

Mas um professor fazer tal afirmação é desanimador. Afinal, é ele quem planeja suas aulas. E, nessa atividade, sempre deve selecionar conteúdos e mostrar para o aluno em que momento da vida ou em que situação ele poderá precisar dele. Afinal, seria muita soberba ou pretensão você ter a sua frente quinze, vinte ou trinta alunos e determinar que um ou outro não vá precisar aprender raiz quadrada, pois será um historiador. Ou que Pedrinho não precisa aprender química, pois será um brilhante lingüista. Seria muito determinismo, e creio que isso já foi superado diante de tantas capacidades das quais o ser humano é dotado.

Como professores, em nossa área de atuação, temos que saber vender nosso produto, ou seja, temos que gostar, e diria até amar com paixão o conhecimento que temos, e que continuamos a adquirir diariamente para que o aluno também veja que ao seu redor está a Matemática, a Biologia, a Física e todas essas “coisas” que se aprende na escola.

Temos sob nossa responsabilidade, naqueles quarenta e cinco minutos que dura nossa aula, seres em formação. E se essas pessoas estão com suas consciências em formação, nada lhes deve ser negado, pois eles precisarão fazer escolhas em suas vidas e nossa função é apontar para eles várias direções que podem ser seguidas. Nada melhor do que poder fazer as melhores escolhas. Nada pior do não ter escolhas, ou ter poucas. Mas as escolhas serão deles.

O conhecimento abre portas e por uma delas ele pode entrar. E essa entrada só será possível com a soma de tudo o que se aprende e se reelabora ao longo da jornada escolar.

Creio que aos meus colegas de quem ouço a afirmação de que aprenderam inutilidades na escola não foram oferecidas muitas escolhas. Ou eles escolheram errado.

Josemeri Peruchi Mezari - Professora Mestre em Ciências da Linguagem

21 de fev. de 2011

Sobre a procrastinação

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Pesquisas já comprovaram: o ser humano tem tendência à procrastinação. Sim, procrastinação, o ato de adiar e deixar tudo para depois – ou pior, para última hora, o que sempre acaba gerando estresse. Um estresse desnecessário se tudo tivesse sido feito seguindo exatamente o cronograma necessário.

Entre os meses de dezembro e janeiro, aquela vontade de fazer diferente fica no ar. Praticamente todos nós fazemos planos, traçamos metas, estabelecemos objetivos. Tudo lindo e maravilhoso. Infelizmente, a concretização de tudo isso esbarra num empasse, já que costumamos deixar tarefas chatas ou difíceis para depois. E o caminho para concluir nossos objetivos não é feito só de flores. Depois de 12 meses, pode ser provável que nada tenha mudado tanto e a vida parece estar sempre igual.

Depois dessa constatação, é impossível não deixar o sentimento de culpa tomar conta de nós. A frustração pode ser grande – e consumir nossas energias. Perguntas são inevitáveis. “Por que não fiz diferente?”. “Por que não perdi menos tempo com coisas desnecessárias?”. Por que não fui capaz de seguir meus objetivos?”. É o velho sentimento de chorar o leite esparramado e lamentar por aquilo que não tem mais remédio.

O jeito é fazer diferente. Tentar, pelo menos. Lamentar, nesse caso, é perder tempo. Como posso mudar minhas atitudes? De que maneira posso organizar melhor meu tempo? Talvez seja necessário, antes de traçar as metas, estabelecer mudanças no modo com que você lida com o seu tempo. A procrastinação tem a ver com o jeito que você lida e organiza seus horários. Ter em mente que será melhor se livrar de uma tarefa o quanto antes, procurar se lembrar da culpa que você sente quando boicota a si mesmo e saber o quanto o sentimento de frustração faz mal podem ser alguns antídotos para fazer diferente. Lembre-se que, depois que toda essa filosofia sai do papel, não é fácil praticá-la. E quem disse que seria? Boa sorte.

14 de fev. de 2011

A importância dos amigos

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Uma reportagem publicada pela revista Superinteressante a respeito de recentes pesquisas sobre a influência dos amigos em nossas vidas parece fazer valer o velho ditado “diga-me com quem andas que te direi quem és” ou aquele verso de uma canção que diz “é impossível ser feliz sozinho”. Aquelas pessoas com quem podemos contar, aqueles que são “pau pra toda obra”, aqueles que escutam e que vibram conosco podem ser o motivo de sermos felizes. Tudo porque as relações de amizade liberam um hormônio relacionado ao prazer e bem-estar. Um hormônio que fez com que nosso cérebro aprendesse a transformar cooperação em algo bom.

Talvez nada do que a reportagem disse seja novidade. Afinal, que graça tem o mundo sem amigos? Aqueles do peito, aqueles que te respeitam como você é e que estão dispostos a estar do seu lado. Viver sozinho não é possível. Temos necessidade de compartilhar emoções e experiências. E um companheiro (esposo ou esposa, namorado ou namorada) nem sempre supre essas necessidades. Afinal, nem só de comprometidos vive o mundo. Os amigos aliviam tensões. Dão conselhos – que nem sempre são seguidos. Fazem graça. Tornam o cotidiano mais prazeroso. Simples tarefas do dia-a-dia, como um almoço ou happy hour não têm nenhuma graça sem a companhia de um amigo.

Outro ponto interessante levantado pela reportagem gira em torno daquele papo de que “se você está triste, eu também estou”. Não é papo. Amigos felizes te deixam felizes. Amigos reclamões, te deixam para baixo. Assim como amigos que fumam podem te influenciar, e amigos obesos também. Será que o ditado “diga-me com quem andas que te direi quem és” é tão forte assim? Creio que isso também depende da consciência de cada um.

Por fim, e não menos importante, já que é a tendência do momento, a revista não deixou de abordar as relações de amizade e internet. Temos milhares de “amigos” graças ao Orkut e ao Facebook. Porém, acho que aí, o conceito de amizade acaba se banalizando. Quando você tiver um problema, com quantos daqueles XX mil amigos poderá contar? A internet diminui barreiras, ajuda a manter contatos, mas, na minha opinião, não adianta: o contato cara a cara, o abraço afetivo e a conversa agradável são insubstituíveis.

7 de fev. de 2011

Aproveite o silêncio

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O ritmo de vida é acelerado. É preciso dar conta das obrigações em casa e no trabalho. É preciso arranjar tempo para não deixar o conhecimento escapar e, para isso, frequentamos cursos, palestras e pensamos numa nova faculdade ou em uma pós-graduação. No meio disso tudo, é necessário arranjar tempo para curtir a família, os amigos, um bom livro ou filme. O tempo urge, mas, pensando bem, às vezes, ele ruge. O mundo é frenético. No meio disso tudo, já pararam para pensar o quanto o silêncio é valioso?

Passamos o dia ouvindo telefones tocando, motores de carros, buzinas de moto, pessoas falando, máquinas trabalhando, guardas apitando. À noite, o noticiário informa, o chuveiro indica alguém relaxando, mas o computador ligado não nos permite o desligamento. Na hora do sono, o ar condicionado do vizinho, os carros na rua aceleram, os cachorros latem.

Escrevo tudo isso porque fazia tempo que eu não sabia o que era silêncio total. Em um domingo desses, antes de levantar, fiquei feliz ao perceber que meu ouvido nada escutava. Nenhum ruído na rua, nenhum barulho. Foi assim que descobri que som maravilhoso tem o silêncio. O som da quietude, do relaxamento, da respiração. Deve ter sido um momento rápido, de poucos segundos, até um carro quebrar a sinfonia do silêncio, alguém na rua caminhar para levar o lixo ou um pássaro cantarolar um pouco.

De fato, essas palavras, com leve poesia, servem apenas para dizer uma coisa: o silêncio é valioso e necessário. Relaxa, conforta e faz bem à alma. Pelo menos uma vez, tente procurar o silêncio. Você verá quão escasso ele está. E quão valioso para a mente ele é.

Sobre o Big Brother Brasil

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Todo ano é a mesma coisa. Já virou rotina. A Rede Globo chama de 12 até 16 anônimos – que depois se descobre que não são tão desconhecidos assim – para participar do Big Brother Brasil, reality show que foi exibido em vários países, mas, ao que parece, só aqui no Brasil consegue segurar o sucesso. O roteiro é o mesmo – só mudam as provas e a repaginação da casa. Os personagens são parecidos: tem sempre a moça fogosa, o gostosão malhado, homossexuais, alguns indivíduos polêmicos e outros sem sal. É rotina.

E fazem parte também dessa rotina os comentários de quem ama e de quem odeia o programa. Com o surgimento do Twitter, são muitos os que usam a rede para expor sua opinião e criticar ou adorar o programa. E tenho que dizer que isso se tornou bem chato.

A começar por aqueles que fazem comentários repudiando quem assiste, do tipo: “Tem gente que assiste o Big Brother?”. Tem sim, tem muita gente que assiste. Caso contrário, não seria um dos programas de maior faturamento publicitário da emissora. Eu acho que comentários desse tipo são dispensáveis. Afinal, cada um faz o que bem entende de sua vida. Seja o Big Brother perda de tempo ou não. Cada um manda em seu controle remoto e tem a autonomia de decidir o que vai assistir.

Outros comentários que, para mim, são dispensáveis, vêm da turma que curte o Big Brother e questiona quem critica. As frases são dos mais variados tipos. “Vocês que falam mal do Big Brother fazem o quê? Leem Nietzsche?”. Esse tipo de provocação é bem infeliz. Assim como quem gosta tem o direito de assistir, quem não gosta tem o direito de fazer o que bem entender com seu tempo. Comentários desse tipo fazem parecer que a única atividade prazerosa para se fazer às 22 horas da noite é assistir ao Big Brother. E isso não é verdade.

Eu não vou defender, nem criticar o programa. Já assisti, hoje não assisto mais. Cada um usa o seu tempo da maneira que bem entender. Vamos ser menos intolerantes e cuidar melhor de sua vida. E ponto.

31 de jan. de 2011

O ser humano e sua consciência

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Todos assistimos ao grande suspense causado pela negociação do passe do jogador Ronaldinho Gaúcho. Ficou claro, pelo que a mídia veiculou, que mais foi um leilão. Quem desse mais, levava. Até os aspectos emocionais foram deixados de lado, pois, se eles prevalecessem, é claro que o Grêmio teria conseguido arrebatar o troféu. Mas o que prevaleceu foi o financeiro. Pagou mais, levou.

Isso nos remete ao mercado milionário que se tornou o esporte, seja ele em qualquer modalidade, mas principalmente o futebol. Os jogadores ganham somas astronômicas, que o trabalhador brasileiro jamais imaginaria ganhar em uma vida inteira de suor e cujo resultado mal dá para que consiga suprir suas necessidades primárias, que são as de comer e se abrigar. E os jogadores são arrebatados pelos clubes por cifras milionárias para que se tornem os ídolos da grande massa e proporcionem o grande espetáculo nas tardes e noites de jogos pelos campeonatos brasileiros. Quando deixarem de jogar, estarão com o lado financeiro garantido por toda a vida. A fama engrossou imensamente suas contas bancárias. Bem, vocês vão argumentar, eles merecem, são talentosos e a riqueza nada mais é do que uma consequência. O que farão com o dinheiro que ganharem? Não se sabe.

Mas queria refletir sobre um esportista que ganhou fama e muito dinheiro e que sabemos o que fez com tudo isso. Ele se caracteriza por um aspecto pouco comum a quem já gozou das glórias de ser o primeiro do mundo, assim como Ronaldinho Gaúcho. Falo de Guga, o tenista. Sim, o nosso Guga Küerten. E o aspecto ao qual me refiro é a sua humildade de caráter e a capacidade de manter um valor cada vez mais raro na sociedade atual, que é a família e a percepção das necessidades dos outros que o cercam. Ao contrário do que se observa em muitos desportistas que alcançaram fama e dinheiro, Guga jamais se envolveu em escândalos que maculassem sua índole. A família foi e continua sendo sua âncora, e o amparo dado por seu instituto a crianças com necessidades especiais nos remetem a um ser humano com um nível de consciência marcado socialmente pelas necessidades do OUTRO, e não centrada no EU.

Explico: o ser humano é um ser social e a satisfação de suas necessidades primárias, como a alimentação e o abrigo, são suas prioridades. Até aí, tem-se o sujeito com uma consciência “em-si”. Por viver em um grupo, a partir do momento que ele pode também usufruir das possibilidades máximas alcançadas pela humanidade, como a arte, a ciência, a política, a diversão, ele alcança outro nível de consciência, chamado “para-si”. É um estágio marcado socialmente, e por poder usufruir de tudo o que a sociedade na qual está inserido oferece, ou seja, por possuir fama e dinheiro, o ser humano pode estabelecer com seus semelhantes duas posturas: na primeira, ele pode se sentir como membro de uma sociedade, mas essa relação com o outro é centrada no eu. Ele se vale do instituído social para proveito próprio e fortalecimento da uma posição econômica que resultará na marcação e fortalecimento de sua posição frente ao grupo. Temos aí uma atividade mental individualista que está estruturada socialmente, mas que não prevê o outro, ou seja, ele tem, mas quem o cerca também tem? Pode-se pensar assim: se tenho acesso aos melhores tratamentos médicos, à boa educação, à diversão, meu próximo também os tem? Temos aqui aquelas pessoas egoístas, que quanto mais têm, mais querem ter.

Agora, observemos outra orientação que o sujeito pode seguir: pode acontecer também que ele, ao se apropriar do instituído social, ou seja, tenha fama e dinheiro, oriente a sua atividade para o grupo. Toda a sua ação é executada prevendo o outro, e, nesse estágio, há a necessidade de valores desenvolvidos pela interação social, como a coerção social, o pensamento conceptual, a inteligência, a cognição, o autocontrole, a volição, a intencionalidade, a lógica, a escrita. Dirigida dessa forma, a ação do indivíduo no meio social será fundada na reflexão e dirigida à solução dos problemas que afetam não só os seus interesses, mas os interesses da coletividade. Ele se sente parte do grupo e a manutenção ou mudança de uma determinada situação só será feita se resultar em benefícios para todos. Resumindo em outras palavras, ele pode pensar assim: se tenho a possibilidades de ajudar meu semelhante, ajudo, não espero acontecer.

Espero que consigam identificar em qual nível de consciência podemos enquadrar o nosso Guga. O pensamento do filósofo russo Mikhail Bakhtin fundamenta essa análise, e permite que a apliquemos a muitas outras pessoas, sejam elas próximas ou não de nós. Guga conseguiu fama e dinheiro com seu magnífico desempenho nas quadras de tênis. Mas não esqueceu sua origem e orientou sua atividade para diminuir o sofrimento e dar esperanças àqueles que ainda não podem, de uma forma ou de outra, ter todas as suas necessidades satisfeitas.

Esperemos que muitos dos nossos desportistas desenvolvam esse nível de consciência, pois as somas milionárias que ganham seriam suficientes para aliviar o sofrimento de muitos que os cercam e encaminhar outros mais que não tiveram a mesma chance.

Ronaldinho Gaúcho, Guga é um bom exemplo para ser seguido quando você se aposentar!

Por Josemeri Peruchi Mezari, professora mestre em Ciências da Linguagem.

24 de jan. de 2011

Noção do coletivo

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Nos últimos dias, a atenção dos brasileiros esteve voltada para o Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde as chuvas trouxeram destruição e perda de muitas vidas. A tragédia comoveu o País e mobilizou as pessoas para as doações a todos que foram atingidos, de uma forma ou de outra. Felizmente, quando a solidariedade é necessária, os brasileiros surpreendem – todos ficam sensibilizados e não se importam de doar um pouco para aqueles que com nada ficaram. Muitas vezes em Santa Catarina sentimos o bom coração do povo brasileiro, nas várias tragédias que nos afetaram.

O triste é que no meio disso ainda acontecem episódios envolvendo pessoas querendo se aproveitar da situação, com o desvio de doações. Isso porque o egoísmo ainda prevalece em pessoas que se aproveitam de situações como essa para se dar bem a qualquer custo. Como se já não bastasse a morte de centenas de pessoas e o alto custo financeiro a particulares e poder público, ainda é preciso estar atento à corrupção que chega a esse nível vergonhoso.

Quando vai chegar o dia em que o foco deixará de ser o eu e passará a ser o nós? Muitos dos problemas que envolvem uma cidade, um estado ou um país estão ligados diretamente à noção de coletivo das pessoas que nesses locais vivem. De nada adianta ser caprichoso com a limpeza em casa e jogar o lixo na areia quando se vai à praia ou se está em uma via pública. Pouco importa se você economiza água ao tomar banho em sua casa, mas não fecha a torneira no banheiro da faculdade. E mais: economizar papel em casa e usar desesperadamente a impressora do trabalho não faz de você um ativista ambiental. Muito pelo contrário. Isso não é ser coerente e, sim, aproveitar-se somente daquilo que é cômodo, conveniente.

Enquanto a noção do coletivo não estiver implantada na consciência de todos, problemas com a corrupção continuarão a existir. Seja no desvio de verbas públicas ou de doações para vítimas de enchentes.