3 de mai. de 2010

O estrelato no jornalismo

Semana passada começaram as aulas da pós-graduação em Cibermídia. Já nos primeiros momentos da aula com o professor Flávio Porcello tivemos uma definição sobre o que nortearia todo o curso, até maio do ano que vem. A preocupação da coordenação ao criar o curso era formar profissionais especializados com a qualidade do conteúdo para as novas mídias.

A primeira aula? TV Digital. Pouco se falou sobre a TV Digital em si, mas sim sobre o telejornalismo e sua influência na vida das pessoas. Ora, há de se concordar que a TV ainda é um veículo poderoso (e por que não dizer o mais?), que atinge a massa em peso. Uma massa que quer "se ver na telinha". Um veículo que pode utilizar da máxima "a imagem vale mais que mil palavras". Quando você pode dispor de imagem e palavras então, nem se fala. Você dá seu recado, rapidamente, hipnotizando o telespectador.

Afinal, um telespectador fiel - ora, aqui falamos de grande parte da população, que não estudou, que não vê um outro lado da moeda, que não analisa criticamente - acredita cegamente no que a televisão mostra. Ou não é assim?

Ou não foi assim no Caso Isabella Nardoni?

Não queria novamente tocar nesse assunto. Mas, preciso confessar que o caso atrai minha atenção. Foi tema de TCC, acompanhando os 6 últimos meses da faculdade. Mesmo depois de formada, acompanhei o julgamento, há pouco mais de um mês, como quem espera o resultado do vestibular de medicina.

Toco nesse assunto e trago para cá uma reflexão levada pelo professor Porcello à sala de aula. Ele apresentou um artigo - "Jornalismo, mito e linguagem: uma abordagem teórica dos apresentadores-estrela", de Sean Hagen (UFRGS) - que fala que, assim como os telejornais, os apresentadores também ganharam um novo status.

Basta observar o casal 20 da televisão, Willian Bonner e Fátima Bernardes. Sentam na bancada mais poderosa da televisão, têm um casamento "perfeito", trigêmeos que estão sempre nas revistas de celebridades. Você não pediria um autógrafo se visse os dois na rua? Não chamariam sua atenção?



Vejam o rebuliço que Bonner criou no Twitter ao anunciar que ia sair do microblog. "Não vá", "Fica Bonner". O telespectador ficou mais próximo da "estrela" e o tradicional "boa noite" foi além da tela da TV.

Engraçado, você conhece a cara daquele jornalista que escreve a sua editoria preferida no jornal? Provavelmente não. E provavelmente ele nunca será alvo de tietagem. E por que? Porque ele não está na televisão, meu caro.A televisão dá status, dá fama, traz importância. "Você viu? Fulano apareceu na TV!".
E quando ela vem para a sua cidade então, nem se fala não é?

Toda essa reflexão - feita pelos alunos na aula do Porcello - foi para chegar a um outro ponto, que levantei durante a aula. Não só a televisão transforma seus jornalistas em celebridade, mas dá a qualidade de estrela para quem até ontem era anônimo.

Citei lá no início o Caso Isabella. Por que? Ora, quem não se lembra do promotor do caso, Francisco Cembranelli, aquele com um olhinho mais fechado do que o outro, que deu milhares de entrevistas desde que a menina morreu?



Pois qual não foi a minha surpresa, acompanhando o blog do G1, saber que durante o julgamento do casal Nardonni, váááárias comunidades foram criadas no Orkut, reverenciando o promotor. Pedidos de casamento, elogios por seu charme e por aí vai. Na semana seguinte ao veredicto, ele foi abordado no shopping onde passeava com a família: deu autógrafos e bateu fotos.

E por que isso? Milhares de respostas me vêm à mente. Gente deslumbrada? Gente que não tem o que fazer? Poder da mídia? Desejo de justiça sanado? Vontade de agradecer alguém por ter feito o que todos queriam fazer?

Foi a exposição na televisão que deixou Cembranelli no posto de celebridade. Mas, claro, isso vem lá de 2008, quando a imprensa noticiou o caso com força total, dando destaque às investigações que acusavam o pai e a madrasta.

Pergunto-me: se o casal fosse inocente e não houvessem evidências, o promotor seria assediado? Provavelmente, não. Talvez seria linxado, como quase aconteceu com o advogado do casal.

A cultura mocinho x bandido é forte ainda na cultura.

Porém, volto a lamentar que a mobilização das pessoas seria bem-vinda em outros casos também... tantos outros que a televisão noticia todos os dias, como corrupção, roubos, descaso público.
E mesmo noticiando em massa, a televisão não mobiliza do mesmo jeito que mobilizou o Caso Isabella, o Caso Eloá e o Caso Geisy Uniban.

Por que será? Esta pergunta ainda está sem respostas para mim.

Posso arriscar que falta mais senso crítico à maioria da população. Todo mundo pegou a síndrome do "assim tá bom". Não chegou aqui, não me atinge.

Nenhum comentário: