Uma recente reportagem da revista Época mostrou que, cada vez mais, os  jovens estão fazendo dívidas. Também, pudera. Com o incentivo ao  consumo, hoje, até crianças podem ter cartões de crédito pré-pagos. Além  do dinheiro de plástico, o cheque especial é outra tentação para se  gastar aquilo que não se tem, através de ferramentas que de mágicas não  têm nada. A fatura vai bater em sua porta no fim do mês e, caso as  contas não sejam acertadas, os juros acumulam-se de forma assustadora.
Entretanto, possuir um cartão é o primeiro passa para começar a gastar.  De acordo com uma pesquisa divulgada pela revista, 90% dos consumidores  afirmam ficar mais suscetíveis a comprar em lojas que aceitem cartões  (de débito ou de crédito). O cartão  oferece facilidades, parcela  valores, permite fazer compras na internet – o que é hoje uma  comodidade. Mas ele pode ser um perigo para quem não sabe lidar com  dinheiro. Cartão de crédito é para quem tem capital suficiente para  poder pagar as contas que com ele se faz.
Não critico o fato de existirem, por exemplo, esses tais cartões  pré-pagos para crianças. Acredito que os pais devem ensinar aos filhos,  desde pequenos, o valor do dinheiro e de que maneira lidar com ele. Quem  sabe algumas atividades de planejamento financeiro nas escolas também?  Algumas inclusive já adotaram essa prática. E é preciso dar o exemplo,  claro, já que é dentro de casa que estão os primeiros e principais  exemplos da criança.
Além disso, penso que é importante que o jovem saiba desde cedo que nem  tudo que se quer se pode ter. Pelo menos não facilmente. Aquele que  ganha sempre tudo o que deseja, sem batalhas, sem luta, sem dores, acaba  construindo em sua mente a imagem de que o os pais sempre poderão  socorrê-lo e a visão deturpada de que as coisas são fáceis – por fim,  não dá valor nem ao seu patrimônio nem àquilo que vem dos progenitores,  já que sabe que terá alguém que vai apagar o fogo, caso o incêndio se  alastre. E aí está construída uma situação cômoda, que se inicia na  infância, atravessa a adolescência e pode perdurar na vida adulta.  Ganhar um carro facilmente ou até mesmo uma viagem para o exterior pode  inflar o ego de alguém que não possui uma carga segura de valores em  relação ao dinheiro. Bater o carro, por exemplo, pode não ser problema –  o pensamento que vem à mente é: “meu pai teve para comprar, terá para  consertar”. Até que não se dê um basta, situações como essas podem  ocorrer sucessivamente. Observa-se, em muitos casos, o que a Psicologia  denomina de Síndrome de Peter Pan. O indivíduo se nega a “crescer” e  enfrentar as responsabilidades inerentes à vida adulta. Ele pode até  estudar, mas a falta de objetivos a serem alcançados faz com que ele  inicie um curso e, na metade dele, argumente que não era o que ele  desejava. Isso faz com que mude de curso sucessivamente ou se detenha em  especializações, sem que, no entanto, faça uso de seu conhecimento para  se tornar independente financeiramente de seus pais.
Se pararmos para observar um pouco ao nosso redor, vamos perceber como  aquele que trabalhou e conquistou algo por seus méritos dá valor ao seu  “prêmio”. O que pode não acontecer com aquele que obteve de graça. Esse  conceito não é universal, mas é sabido que prezamos muito por aquilo que  obtivemos por nosso próprio esforço.
Outro fator que é preciso destacar quanto ao gerenciamento de finanças é  aquele velho pensamento: “se eu ganhasse mais, não teria dívidas”. Não  acredito nisso. Aquele que não sabe administrar 400 reais, não saberá  administrar 1000, tampouco 3 mil. Quanto  mais se tem, mais se gasta,  mais se quer. Já dizia o velho ditado: dinheiro na mão é vendaval. Por  isso, aprender a administrar aquelas notinhas tão valiosas pode valer,  materialmente falando, o sucesso daquilo que você tanto almeja.
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