9 de ago. de 2010

Os jovens e o valor do dinheiro

Uma recente reportagem da revista Época mostrou que, cada vez mais, os jovens estão fazendo dívidas. Também, pudera. Com o incentivo ao consumo, hoje, até crianças podem ter cartões de crédito pré-pagos. Além do dinheiro de plástico, o cheque especial é outra tentação para se gastar aquilo que não se tem, através de ferramentas que de mágicas não têm nada. A fatura vai bater em sua porta no fim do mês e, caso as contas não sejam acertadas, os juros acumulam-se de forma assustadora.

Entretanto, possuir um cartão é o primeiro passa para começar a gastar. De acordo com uma pesquisa divulgada pela revista, 90% dos consumidores afirmam ficar mais suscetíveis a comprar em lojas que aceitem cartões (de débito ou de crédito). O cartão oferece facilidades, parcela valores, permite fazer compras na internet – o que é hoje uma comodidade. Mas ele pode ser um perigo para quem não sabe lidar com dinheiro. Cartão de crédito é para quem tem capital suficiente para poder pagar as contas que com ele se faz.

Não critico o fato de existirem, por exemplo, esses tais cartões pré-pagos para crianças. Acredito que os pais devem ensinar aos filhos, desde pequenos, o valor do dinheiro e de que maneira lidar com ele. Quem sabe algumas atividades de planejamento financeiro nas escolas também? Algumas inclusive já adotaram essa prática. E é preciso dar o exemplo, claro, já que é dentro de casa que estão os primeiros e principais exemplos da criança.

Além disso, penso que é importante que o jovem saiba desde cedo que nem tudo que se quer se pode ter. Pelo menos não facilmente. Aquele que ganha sempre tudo o que deseja, sem batalhas, sem luta, sem dores, acaba construindo em sua mente a imagem de que o os pais sempre poderão socorrê-lo e a visão deturpada de que as coisas são fáceis – por fim, não dá valor nem ao seu patrimônio nem àquilo que vem dos progenitores, já que sabe que terá alguém que vai apagar o fogo, caso o incêndio se alastre. E aí está construída uma situação cômoda, que se inicia na infância, atravessa a adolescência e pode perdurar na vida adulta. Ganhar um carro facilmente ou até mesmo uma viagem para o exterior pode inflar o ego de alguém que não possui uma carga segura de valores em relação ao dinheiro. Bater o carro, por exemplo, pode não ser problema – o pensamento que vem à mente é: “meu pai teve para comprar, terá para consertar”. Até que não se dê um basta, situações como essas podem ocorrer sucessivamente. Observa-se, em muitos casos, o que a Psicologia denomina de Síndrome de Peter Pan. O indivíduo se nega a “crescer” e enfrentar as responsabilidades inerentes à vida adulta. Ele pode até estudar, mas a falta de objetivos a serem alcançados faz com que ele inicie um curso e, na metade dele, argumente que não era o que ele desejava. Isso faz com que mude de curso sucessivamente ou se detenha em especializações, sem que, no entanto, faça uso de seu conhecimento para se tornar independente financeiramente de seus pais.

Se pararmos para observar um pouco ao nosso redor, vamos perceber como aquele que trabalhou e conquistou algo por seus méritos dá valor ao seu “prêmio”. O que pode não acontecer com aquele que obteve de graça. Esse conceito não é universal, mas é sabido que prezamos muito por aquilo que obtivemos por nosso próprio esforço.

Outro fator que é preciso destacar quanto ao gerenciamento de finanças é aquele velho pensamento: “se eu ganhasse mais, não teria dívidas”. Não acredito nisso. Aquele que não sabe administrar 400 reais, não saberá administrar 1000, tampouco 3 mil. Quanto mais se tem, mais se gasta, mais se quer. Já dizia o velho ditado: dinheiro na mão é vendaval. Por isso, aprender a administrar aquelas notinhas tão valiosas pode valer, materialmente falando, o sucesso daquilo que você tanto almeja.

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